segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O JULGAMENTO

O JULGAMENTO


Bom dia. Mertíssimo Verme, a coroa mostrará sem sombra de dúvida


que o prisioneiro aqui presente


foi apanhado em flagrante dando mostras de sentimentos


sentimentos de natureza quase humana


Que vergonha!


Assim não pode ser, chamem o director da escola


Sempre achei que este ia acabar mal


Se afinal, Meritíssimo,me tivessem dado carta branca


Tê-lo-ia chicoteado até entrar na linha mas tinha as mãos atadas.


O raio dos poetas e artistas deixam-nos fazer tudo o que querem.


Deixem-me malhar-lhe agora,


loucos bonecos no sotão,estou maluco


Devem-me faltar alguns parafusos


Chamem a mulher do réu, sua porca, estás arrumado


Espero que fiques dentro para sempre


Devias ter falado comigo mais vezes


Do que falas-te, mas não, tinhas que levar a tua avante


Destruiste muitos lares ultimamente?"


Dê-me só cinco minutos,Meritíssimo Verme, a sós com ele


"Pequenino, vem à mamã, pequenino, deixa-me pegar em ti


Na cama nunca quis que ele arrajasse sarilhos


Porque me abandonou ele, Meritíssimo Verme,deixe-me levá-lo para casa


Doido com o arco-íris, estou louco, grades na janela


Devia haver ali uma porta na parede quando aqui cheguei


Doido como o arco-íris, está doido e a prova perante o tribunal


É irrefutável, nem é necessário o júri retirar-se


Em toda a minha experiência como juiz nunca vi ninguém


Que mais merecesse a pena capital, a maneira como fez


Sofrer a sua excepcional mulher e a sua mãe dá-me vontade deVomitar mas meu amigo você revelou o seu medo mais profundo


Condeno-o a ficar exposto perante os seus semelhantes


Deitem a parede abaixo.
publicada por alex às 14:33

2 Comentários:
Silêncio Culpado disse...
Xana

Este texto tem duas linhas de força que acho espectaculares. Uma tem a ver com a frieza das Instituições face ao indivíduo e outra com o facto de remeteres para o "castigo maior" não a pena de morte nem a prisão mas sim a queda do muro que deixa o indivíduo exposto perante uma sociedade que o hostiliza.
Muito boas mesmo e muito ricas estas duas mensagens.
Porém já não concordo que apelides de "verme" o Meretissímo só porque ele representa a lei e produz um julgamento de acordo com a mesma.Ele também poderá ser uma vítima do próprio papel que desempenha. Ele também, tal como o jovem que julga, poderá ser um rebelde solitário, que faz parte duma engrenagem que lhe impõe uma determinada forma de actuação.
Porque todos nós estamos permanentemente a ser julgados pelos actos que praticamos e pelas percepções que os outros têm desses mesmos actos. E isto quer expressemos claramento o nosso pensamento ou o guardemos a sete chaves no lugar mais recôndito de nós próprios.
Também nós nos julgamos e avaliamos de acordo com certos padrões que umas vezes nos beneficiam e outras nos prejudicam. E é deste conjunto de julgamentos que resulta a nossa vida em sociedade e que pagamos quase sempre pelos actos que cometemos.
Todavia mais importante que os actos em si é a humildade na nossa postura em relação aos outros. Se atirarmos pedras ao Meretissímo, quer chamando-lhe verme, quer hostilizando a sua actuação legitimada pela sociedade a que pertencemos, receberemos sempre de volta essas pedras que ferem e se amontoam ao invés de servirem para construirem pontes que aproximam. Para que os outros nos aceitem, tal como somos, temos também que procurar aceitar esses outros tal como eles também são. A nossa situação não especial só porque é nossa. Todas as situações individuais são especiais e todas têm o seu lado bom e as suas vicissitudes. Ninguém é a vítima porque todos ajudam, mal ou bem, a contruir a sociedade que os eleva ou que os inferioriza.


Adorei esta tentativa de te abrires e expressares sentires.

Cintinua.


Beijos

20 de Janeiro de 2009 3:36
R. Rudoisxis disse...
Sentires desordenados e culpas assumidas que em todas as auto condenações ainda parecem suaves para ti. Um grito na noite, um gemido ouvido, uma dor que não passa, um perdão em que não acreditas. Caída na sargeta pela mão firme que te estendem,levanta-te e caminha.
Uma caminhada de mil quilómetros começa com um pequeno passo. A cada passo dado que dês menos será a distância a percorrer. O caminho é longo mas tu és capaz.A pena capital morreu e a prisão perpétua é inadequada a qualquer crime por mais hediondo que seja. As portas abriram-se e o julgamento feito e a sentença cumprida. Renasce para vida, confia na tua força e na capacidade de amar a vida. A primavera chegou e as flores crescem na berma da tua estrada.Inspira o ar puro e o perfume que sentes no ar emanado dessas flores. A vida é linda e bela se apreciarmos a sua beleza.
As barreiras cairam, o sol brilha e o céu ficou azul.As nuvens cinzentas desapareceram a chuva fez nascer as flores e tudo é difrente. Porque havemos de nos lembrar das tempestades passadas como se elas ainda estivessem presentes. Ama a vida, ama o teu próximos e todos aqueles que te amam. Beijo

20 de Janeiro de 2009 13:06

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