quinta-feira, 16 de abril de 2009

O DIÀRIO DE ADRIAN MOLE

Domingo,2 de Janeiro

Hoje analisei a minha aparência. Só cresci alguns centímetros no último ano, portanto tenho que me convencer de que vou ser uma daquelas pessoas que nunca vêem bem no cinema.
A minha pele está uma lástima, as minhas orelhas são espetadas o meu cabelo tem trés riscos e, por mais que o penteie não consigo que fique à moda.

Segunda feira ,3 de Janeiro

Estão a decorrer negociações entre o meu pai e a minha mãe para regressarem ao seu estado marital. A minha mãe disse:« Mas como pode resultar ,Adrian ? Há tanta coisa para esquecer»
Eu sugeri a hipnose.

Terça -feira, 4 de Janeiro
Mais negociações à porta fechada. Quando saiu , pedi ao meu pai um relatório do encontro.« Respondeu sem coméntários» e entrou para o carro.

Quarta-feira,5 de Janeiro
As negociações foram interrompidas
Ouvi o açucareiro partir-se no chão e vozes altas. Depois ,a porta a bater.

Quinta feira ,6 de janeiro
Uma mensagen foi enviada por um intermediário (eu).Novas negociações seriam bem vindas. A mensagem foi transmitida e a resposta favorável, por isso fui encarregue de tratar dos pormenores de hora ,local e ama-seca.

Sexta -feira, 7 de Janeiro
O encontro decorreu num restaurante chinês às 8 da noite. As negociações prolongaram-se pela noite fora e só foram interrompidas quando uma das partes regressou a casa para dar de comer ao bébé.

Sábado 8 de Janeiro
Ambas as partes emitiram o seguinte comunicado:
Fica acordado que Pauline Monica Mole e George Alfred Mole, tentaram viver em mútua harmonia durante o périodo experimental de um mês .Se durante o período experimental de um mês.Se durante esse período Pauline Monica Mole, a doravante referida como PMM, e George Alfred Mole, o doravante referido como GAM quebrarem o(...)a acordo, então ele será considerado nulo e o processo de divórcio seguir-se-á automaticamente

Terça -feira, 1 de Fevereiro
Hoje apareceram as primeiras falhas no acordo matrimonial: uma discussão sobre dinheiro.
Somos mantidos pelo Estado no estilo em que o Estado nos quer manter, isto na pobreza.Os meus pais não suportam mesmo serem pobres.Para mim tudo bem, estou habituado. Nunca mais mais de trés libras por semana a que chamar minhas.

Sexta -feira ,4 de Fevereiro
Passei o dia na enfermaria da escola devido a ter-me sentido fraco na primeira aula (EF):A enfermeira perguntou-me se alguma coisa me corria mal em casa . Eu comecei a chorar e disse que estava tudo bem. «Os adultos têm vidas complicadas, Adrian. Não é só ficar a pé até tarde e ter a sua própria chave de casa!»
Eu disse que os meus pais deviam ter moral, ser consistentes,com principios.
Ela respondeu «isso é pedir muito:» Fi-la prometer que não dizia a ninguém que me tinha visto a chorar. Ela prometeu e amavelmente deixou-me ficar até os meus olhos voltarem ao normal.
ela prometeu e amavelmente deixou-me ficar até os meus olhos voltarem ao normal.

Terça -feira 8 de Fevereiro
Não me perguntem como tenho aguentado os longos dias de escola.Ando de um lado para o outro como um robot sorridente.Mas a minha alma chora,chora,chora. Tomara que os professores soubessem que uma palavra menos amável da parte deles me enche os olhos de lágrimas.
Safo-me dizendo que sofro de conjuntivite, mas às vezes é por pouco.
Hoje acaba o período experimental.
1 da manhã. Ambas as partes concordaram com um prolongamento.

(...)



Sue townsend,
Adrian Mole na crise da adolescência

27 comentários:

  1. Já o li...e retrata bem essa crise pela qual todos passamos...

    agora o Diário de Anne Frank marcou-me mais porque ainda há quem diga que o holocausto foi uma "miragem".

    Beijocas

    ResponderEliminar
  2. sempre achei piada a este livro. ofereci-o ao meu filho quando iniciou a adolêscencia

    ResponderEliminar
  3. O mundo actual assim faz as suas marcas. O mundo actual, refiro-me aos filhos. Eles estão, hoje, já na maturidade dos pensamentos (muito deles) e que se manifesta numa prioridade algo "desinteressada" das inquietudes da vida. Contudo, ainda, são eles os mais afectados na conturbada adolescência e "desconcertante" sociedade.

    até

    ResponderEliminar
  4. Gosto imenso das reflexões do "Adrian Mole", nos seus vários diários. É passagem quase obrigatória nas minhas aulas...

    Bejo e bom fim de semana

    ResponderEliminar
  5. Todos temos as nossas crises na adolescência.....mas é justamente o que nos faz crescer...

    Obrigada pela visita.
    Bom fim de semana

    ResponderEliminar
  6. Quantas das nossas crianças não vivem um "prolongamento" constante... que lhes transtorna a alma e enfraquece o corpo...

    Dá que pensar...

    Beijo...

    ResponderEliminar
  7. Gostei de ler este diário.
    Fizeste mais uma excelente escolha. Obrigado pela partilha.
    Bom fim de semana.
    Beijos.

    ResponderEliminar
  8. Que interessante recordar este livro que li há já tantos anos...
    Um feliz final de semana.

    ResponderEliminar
  9. Fica-nos sempre um nó na garganta ao depararmo-nos com o sofrimento dos filhos que veem ruir a harmonia familiar.
    A separação é terrível e, cala fundo dentro de nós!

    Um beijo amigo, com votos de um bom fim de semana.

    Maria Faia

    ResponderEliminar
  10. querida Alexa

    recordando leituras da adolescência? Lembro-me bem de Adrian Mole e de achar que tinha muita razão e que os pais infernizam os adolescentes que já "têm uma vida tão dífícil". Hoje penso o contrário mas talvez isto seja devido aos tempos serem outros. Se lesse Adrian Mole agora diria que ele tinha muito a aprender sobre a vida.

    beijo e abraço grande

    ResponderEliminar
  11. Txto original, sim... dá vontade de ler o resto! :) Bom fim de semana.

    ResponderEliminar
  12. Eh pa com tanta coisa que ha no mercado ja nem melembrava de uma perola destas...

    ResponderEliminar
  13. Lindo!!! Faz-me lembrar um diário que escrevi com 15 anos. Tem mais de mil páginas e está guardado ainda na gaveta.

    Muitos beijinhos. Bom sábado!

    ResponderEliminar
  14. Alexa,

    Foi bom retomar as memórias da adolescência, precisamente num momento em que há valores que deixaram simplesmente de existir.
    Hoje o mundo é outro, os afectos também, e por isso o teu post me fez pensar...

    Bom fim de semana.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  15. É muito engraçado este livrinho. Li-o há já uns bons 10/15 anos.

    Um abraço e bfds.

    ResponderEliminar
  16. Alexa
    Nunca li Adrian Mole e desconhecia mesmo a sua existência. Fiquei a conhecê-lo agora através de ti e acho realmente uns textos literariamente muito bem conseguidos. Obrigada por no-los mostrares.
    Relativamente à realidade da destruturação familiar o meu amigo José Carreira publicou um vídeo no Cegeuira Lusa que achei também muito interessante.
    Abraço

    ResponderEliminar
  17. Alexa obrigada pela partilha...

    Adorei...

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  18. Vinha agradecer a visita ao meu louco canto e aproveitei para um pequeno voo por aqui, onde penso voltar.
    Um problema humano é sofrer com a culpa dos outros.
    E então se nos são chegados ...
    Fica na luz

    ResponderEliminar
  19. ...neste caso, assim como em tantos
    por aí, entra o egoísmo humano que
    tomado por todas as emoções no calor
    dos desentendimentos, passa por cima
    de coisas sagradas do tipo, família,
    filhos, e se esquece que toda família
    não é formada por acaso, e sim por
    consequências das escolhas que Deus
    nos permite fazer.

    uma vez feita a escolha, fraquejar
    é voltar passos para trás sem cumprir
    a caminhada que se propôs nos esquecendo
    que podemos fugir momentaneamente,
    mas não podemos fugir dos desígnios
    sagrados.

    vamos pensar?

    bjs

    ResponderEliminar
  20. Um ciclo vicioso. pais, filhos, conflitos que se repetem em tantas familias...
    Beijos

    ResponderEliminar
  21. venho deixar-TE um íssimo beijo meu.

    e perdoa-me alguma ausência aqui.

    como sabes os dias andam findos à nascença.

    uma boa semana e toda a saúde que seja possível alcançar.

    ResponderEliminar
  22. As situações são por demais corriqueiras, no entanto, é uma texto interessante e original. A (des)construção de um casal a partir do ponto de vista do filho.
    Um beijo!

    ResponderEliminar
  23. Alex... um belissimo livro, que li e reli...
    Uma excelente sugestão de leitura!


    Um beijo!

    ResponderEliminar
  24. Fico à espera de mais...
    Boa semana, beijos.

    ResponderEliminar